Opinião Política – Alexandre Nascimento (Partido Aliança)
A culpa é do funcionário
Esta semana, confrontado com o gravíssimo e injustificável envio por parte dos serviços municipais à Embaixada da Rússia de dados pessoais de alguns cidadãos que se manifestaram contra o governo de Vladimir Putin, em Lisboa, o Presidente da Câmara, Fernando Medina, teve a cobardia e o desplante de passar pelos intervalos da chuva, despedindo um colaborador com provas dadas, que estava na Câmara há mais de 30 anos.
Enquanto presidente e, por isso mesmo, primeiro responsável pelos actos praticados na Câmara de Lisboa, Fernando Medina não pode, simplesmente, sacudir a água do capote e sacrificar um funcionário quando existe um problema grave e que lhe diz respeito. Se sabia que o procedimento habitual era aquele, foi conivente… o que é muito grave. Se desconhecia tais práticas (como afirmou), então é porque tem a Câmara em autogestão e sem qualquer mecanismo de monitorização e controle, o que é ainda pior.
Não é aceitável que o comandante de um navio vá pisando a cabeça dos seus homens, pé ante pé, enquanto estes se afogam, para se manter à tona da água, safando-se, assim, do naufrágio. De um comandante espera-se que dê o corpo às balas. De um verdadeiro líder espera-se sempre coragem e nobreza… que se chegue à frente… que assuma as suas responsabilidades.
Já se percebeu que com o Sr. Medina não é assim! O Presidente da Câmara de Lisboa, no meio de uma grande trapalhada, e com muitas coisas por explicar, diz que desconhecia o procedimento por parte dos seus serviços… que não estava informado de tal… no fundo, que como não foi ele a tratar diretamente do envio, não tem culpa! A responsabilidade é do funcionário!
Luís Feliciano… é este o nome do Encarregado da Proteção de Dados do Município, que foi, por estes dias, exonerado por Fernando Medina, alegando que “Há um problema de confiança em relação à forma como o município tratou dos dados pessoais e é preciso dar um sinal claro”… que é como quem diz, em jeito de Despacho… não fui eu, não tenho culpa, sacrifique-se a cabeça do Feliciano!
Ora aqui está o tal “sinal claro”!
É, de resto, um sinal muito característico dos líderes fracos e sem escrúpulos… aparecer sempre para colher os louros da glória e encontrar bodes expiatórios nos fracassos. Se Medina não é o primeiro responsável quando um elemento da sua equipa comete o erro grave de facultar dados de cidadãos ao governo de Putin, então por que raio é que tem que ser o primeiro responsável pelas grandes obras feitas na Cidade?! Não tem nada que aparecer a entregar chaves de habitação acessível, a inaugurar o novo Parque Urbano da Praça de Espanha ou a lançar ciclovias porque não foi ele que executou os trabalhos… foram os serviços e as equipas da Câmara. A confiar na palavra do próprio Medina, o mérito é de quem executou… não é dele!
Aproveitando esta nova forma de encarar o exercício da responsabilidade política, e sabendo-se que não foi ele que foi levantar o dinheiro ao balcão da agência, sugiro que José Sócrates seja indemnizado pelo Estado português por danos à sua imagem pública e que Ricardo Salgado seja, de imediato, ilibado na Operação Marquês, imputando-se a culpa ao funcionário que, continuamente, lhe abria a porta para que pudesse incorrer em actos ilícitos nas instalações do BES.
Já agora… podíamos aproveitar as boas práticas portuguesas e libertar alguns ditadores mundiais condenados, injustamente, por crimes contra a humanidade. Afinal… que culpa têm eles se meia-dúzia de tipos fardados e com armas na mão andam p’raí a matar gente?!
Lavar as mãos como Pilatos é (e será sempre) um sinal de falta de carácter!
Alexandre Gomes do Nascimento
Vice-presidente
Partido ALIANÇA
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